Urbanismo 3: Sitte & Howard.
Camillo Sitte (1843-1903) e a Arte de construir
cidades.
- Sitte foi um arquiteto e historiador da arte
austríaco, diretor da Escola Imperial e Real de Artes Industriais de Viena. Foi
o autor do estudo urbanístico: A Construção das Cidades Segundo seus
Princípios Artísticos onde, através de uma análise das cidades na história,
Sitte propõe reavaliar a cidade através de seus espaços existentes,
principalmente suas praças. Segundo Françoise Choay, seu objetivo foi o de
"polemizar contra as transformações de Viena e o planejamento do
Ringstrasse segundo os princípios de Haussmann. Foi, no entanto, sem efeito
sobre o destino urbanístico da capital austríaca e a concepção que acabou
predominando a de Otto Wagner." Sua obra será fonte de inspiração para
historiadores e arquitetos/urbanistas como Gustavo Giovannonni e Lewis Mumford
(Wikipedia.pt).
- Na sua obra mais conhecida, Sitte faz “uma
detalhada análise do espaço interno das cidades a partir da Antiguidade, e
enfatiza a força morfológica, usando como referência a disciplina da psicologia
do espaço, ainda em formação, e as teorias artísticas” (CALABI).
- Trata-se sobretudo de uma discussão sobre a
natureza das percepções e sobre o papel do espectador na cidade, o que nos
obriga a reconhecer que o livro de Sitte - alguns anos antes da fenomenologia
de Heidegger - concebe o espaço urbano como um lugar, que solicita uma
abordagem corporal para ser apropriado (WIECZOREK).
- Aparentemente Sitte foi influenciado pelo
‘espírito’ do pintoresco, que predominava na estética romântica desde a pintura
de paisagem do séc. XVII e os jardins paisagísticos.
- Entender o urbanismo como arte de construir.
Nas palavras de Calabi trata-se de“uma inversão conceitual completa, porque
representa a tentativa de passar do conceito newtoniano do espaço absoluto ao
conceito de um espaço subjetivo e relativo, a ser compreendido paralelamente
com o emergir das geometrias não euclidianas”.
- Uma das questões
centrais do estudo de Sitte diz respeito à Praça, da qual ele faz um
levantamento minucioso em relação à Praça medieval, constatando, entre outras
coisas, que os centros das praças deveriam permanecer livres para não obstruir
a linha de visão. Em especial criticou a forma de se construir igrejas ou
prédios públicos no centro das praças, porque estragam a vista da praça e não
haveria distância e espaço adequado para se ver a fachada do edifício por
completo (Wikipedia.pt)
- De acordo com a
classificação de Sitte, há duas categorias de praças urbanas, o tipo
profundidade e o tipo largura, e para saber se uma praça é larga ou profunda o
observador precisa ficar em frente ao edifício principal que domina todo o
layout. Assim, Piazza S.Croce em Florença deve ser considerado como uma praça
profunda uma vez que todos os componentes são projetados de acordo com a sua
relação com a fachada principal. Assim, a classificação não é sobre as
dimensões, mas depende da relação entre a praça e seus componentes (monumentos)
(Wikipedia.pt).
- Ruas principais em
cidades antigas crescem com o desenvolvimento gradual no sentido dos centros e
evitam uma perspectiva infinita pelo deslocamento freqüente do eixo. Um exemplo
para isso é a Breitestrasse em Lübeck, onde uma torre domina a rua inteira.
Para os pedestres andando na rua, o campanário é trazido para fora em um
momento. Posteriormente ele desaparece novamente e a estrutura da igreja nunca
domina a vista, por causa do trajeto curvo da rua. É necessário enfatizar que
as ruas retas não podem oferecer tal variação de cenário. Portanto, a falta
deste tipo de percurso charmoso e com uma sucessão visual de quadros é uma das
razões que levou à falta de efeitos pitorescos nos planos urbanos do tipo
Haussmann.
Ebenezer Howard (1850-1928) e a cidade-jardim.
- A única publicação que Howard (jornalista) escreveu em sua vida foi
intitulada To-Morrow: A Peaceful Path to Real Reform, que foi
significativamente revisada em 1902 como Garden Cities of To-morrow, baseado
em ideias de reforma social e urbana. As cidades-jardins deveriam evitar os problemas
das cidades industriais da época, como pobreza urbana, superlotação, baixos
salários, becos sujos sem drenagem, casas mal ventiladas, substâncias tóxicas,
poeira, gases de carbono, doenças infecciosas e falta de interação com a
natureza. Este livro ofereceu uma visão de cidades livres de favelas e
aproveitando os benefícios de ambas as situações; da cidade (como oportunidade,
diversão e bons salários) e do campo (como beleza, ar fresco e aluguéis
baixos). Ele ilustrou a ideia com o seu famoso diagrama três imãs, que abordava
a questão "Para onde o povo vai?", Sendo as escolhas
"Cidade", ”Campo" ou "Cidade-jardim" (Wikipedia.com)
“O pensamento de Howard se
torna atual na medida em que suas preocupações de integração entre cidade-campo
(os três imãs) eram uma estratégia de planejamento regional para evitar o fluxo
migratório em direção às grandes cidades: cidades auto-organizadas interligadas
por um sistema de transporte público eficiente seriam formadas juntamente com o
estabelecimento de indústrias e cinturões agrícolas, que absorveriam os
resíduos sólidos urbanos (…) Sua intenção não era criar um subúrbio jardim,
mas uma entidade cidade-campo em combinação permanente com dimensões
controladas de 2.400 hectares para 32.000 pessoas, sendo 2.000 hectares para a
área rural de 2000 habitantes e 400 hectares para a parte urbana de 30000
habitantes dividas em 6 partes ou bairros com 5.000 habitantes. A zona agrícola
agiria como um amortecedor contra o crescimento incontrolável do centro
populacional. Para Howard, quando uma cidade atingisse a sua capacidade de
suporte, novas cidades deveriam ser formadas em torno de uma cidade central de
58.000 habitantes, um núcleo cultural, formando uma constelação de cidades
interligadas por meio de ferrovias e rodovias”. (ANDRADE.
Arquitextos. 2003).
Welwyn Garden City.
- Fundada por uma sociedade privada da qual Howard é co-fundador
em 1920.
- O plano urbanístico é de Luis de Soissons: ele concentra
as indústrias e parte das residências á direita da linha ferroviária que divide
a cidade em 2 partes e à esquerda projeta a 1ª área residencial com uma
densidade de 12 casas por acre (4.046
m2). O desenho desta
ultima área é caracterizado por uma avenida arborizada dupla em cuja
extremidade norte localizam-se os edifícios públicos e na extremidade sul é
prevista um ’village ideal’, patrocinada pelo jornal Daily Mail e
experimentando novos métodos de construção sob a direção de Raymond Unwin.
(CALABI).
- O ‘espírito do plano’ configura-se através de uma perspectiva
linear central inserida em uma malha regular, onde é estabelecida a parte
administrativa - centro cívico da cidade, com a implantação viária da área
residencial anexa assumindo um curso curvilíneo, reunindo os cottage em
torno de vários tipos de cul-de-sac.
(CALABI).
- Todos os arquitetos participantes do projeto
deviam se adequar às regras derivadas das experiencias tipológicas de Unwin e
de seus alunos. O tema da variação das fachadas não era apenas para evitar a
monotonia, mas correspondia também a uma variação nos custos das casas. Apesar
disso em 1932 haviam apenas 9 mil habitantes na cidade ocupando 2.500 casas, um
desenvolvimento lento frente ao alto custo de investimento por habitante, o que
demonstra que se tratava de uma solução impossível de ser adotada a nível
nacional (CALABI)
.
.(Este texto não tem pretensão autoral. Tratam-se de notas de aula de autores distintos referendados abaixo):
Referencias bibliográficas:
ANDRADE, Liza M. S. de. O conceito de cidades jardins: uma adaptação para as cidades sustentáveis In: Arquitextos. Nov. 2003.
CALABI, Donatella. Urbanismo europeu. São Paulo : Perspectiva, 2012.
WIECZOREK, Daniel. Camillo Sitte et les débuts de l'urbanisme moderne. Paris, Pierre Mardaga. 1995.
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