Urbanismo 2: Viena e Barcelona.
Viena e o Ringstrasse.
- Na esteira das reformas parisienses, um
urbanismo conservador se propaga pela Europa procurando modernizar as antigas
capitais europeias, viabilizando-as no contexto das novas relações sociais e
culturais trazidas pela Revolução Industrial.
- Em 1857 o imperador anuncia a decisão de
derrubar as antigas muralhas medievais de Viena e institui um concurso para a
reurbanização da área, impondo exigências precisas: respeito a algumas casernas
existentes e construção de novas, facilitando o deslocamento de tropas pela
grande avenida anular a ser construída; o espaço frente ao palácio imperial
deveria ser deixado livre e nas vizinhanças construído uma praça de armas; ao
longo da avenida anular deveriam ser colocados vários edifícios públicos
(teatro de ópera, biblioteca, arquivo, administração comunal, museus, galerias,
mercados) (BENEVOLO).
- Na sequencia dos trabalhos - em cujo concurso
foi vitorioso Ludwig Forster (1797-1863) – algumas das exigências estratégicas
são reduzidas em muito: desaparece a praça de armas e aumenta o número e a
importância dos edifícios públicos: Opera de Viena; Academia de Belas Artes;
Palácio de Justiça; Parlamento Austríaco; Prefeitura; Burgtheater; Universidade
de Viena; Votivkirche (Igreja votiva); Bolsa de Viena; etc…
- O Ring de Viena permite inserir a cidade
antiga dentro do sistema viário da cidade moderna sem cortar e destruir o velho
tecido, como ocorreu em Paris, e permite compor os principais edifícios
públicos em um ambiente amplo e arejado, entre passeio e jardins; a operação,
contudo, foi possibilitada principalmente pela relativa exiguidade do núcleo
antigo (BENEVOLO).
- Ainda na segunda metade do XIX, projetos de
complementação urbanística vão tornar a cidade emblemática por duas soluções
alcançadas: o aperfeiçoamento de uma rede ferroviária metropolitana, como
suporte para o desenvolvimento dos subúrbios, e o zoneamento, como instrumento
de projeto dos mesmos.
- Um plano implementado a partir de 1892 recebe
a colaboração predominantemente técnica de Joseph Stubben e estética de Otto
Wagner. O primeiro se dedica principalmente a questão do tráfego urbano,
propondo uma melhoria nas linhas de bonde. O pensamento de Stubben,
influenciado por Camillo Sitte, evita a linha reta, optando por soluções com
praças e monumentos, fontes e arcos de triunfo. O sistema de anéis é ampliado
com a construção de um terceiro anel viário complementado por vias radiais. A
estética de Wagner contudo, mais próxima da de Hausmann, anula muitas das
proposições de Stubben.
- A exigência de planejar os subúrbios encontra
uma correspondência no projeto definitivo (implementado pelo prefeito Karl
Luger), com uma divisão em seis tipos de zonas caracterizadas por diversas
tipologias e alturas.
- Critérios inspirados na socialização
municipal dos serviços urbanos como abastecimento e transportes e ao mesmo
tempo a garantia de acesso a espaços públicos com a oferta de um consistente
patrimônio de bosques e parques nos arredores de Viena, vão transforma-la numa
das capitais mais cosmopolita e com alto índice de habitabilidade da Europa até
a 1ª Grande Guerra.
Plano da cidade de Viena em 1858, mostrando o contexto
urbano e a localização das antigas muralhas (com o Glacis) da cidade em torno
da cidadela medieval, antes da construção do Ringstrasse.
Burgtheater (Teatro da Côrte). Gottfried Semper
& Karl Freiherr von Hasenauer. 1888. Localizado no Dr. Karl Lueger Ring (Ringstrasse).
Cerdá e a Teoria do Urbanismo.
- O eng. espanhol Ildefonso Cerdá (1815-76)
publicou em 1867 seu tratado intitulado Teoria Geral da Urbanização, no
qual ele formula pela 1ª vez uma teoria científica para a cidade: ’Vou
iniciar o leitor no estudo de uma matéria completamente nova, intacta e virgem’.
E propõe para designar esta nova disciplina, um neologismo mais tarde adotado universalmente:
urbanismo (CHOAY).
Cerdá formula pela primeira vez os dois
conceitos diretores que, hoje mais do que nunca, continuam sendo os dois polos
operacionais do urbanismo: a habitação e a circulação. A importancia que ele
atribui à circulação não o leva a negligenciar a habitação, que para ele não se
reduz ao alojamento, mas é a exigência primeira e fundamental, aquela que
permite o desenvolvimento da pessoa humana (CHOAY).
Aos olhos de Cerdá, a história é a disciplina
que permite situar a ciência urbana. Para ele, é impossível compreender a
significação e o problema das cidades contemporâneas, sem referência à história
de que são o produto (CHOAY).
O plano de Cerdá para Barcelona incorpora
alguns dos seus conceitos fundamentais, a homogeneidade, para assegurar a
equivalencia espacial, a supremacia do sistema viário, para facilitar as trocas
e as relações sociais. (CALABI). A questão do fluxos, tal como em Paris,
retorna de uma forma contundente no urbanismo de Cerdá!
- O plano é uma estrutura rígida, contínua,
baseada numa malha ortogonal que engloba as preexistências (cidade histórica,
burgos, colina de Montjuic etc). Nele são previstas tres artérias principais
que se cruzam na Plaza de las Glorias (CALABI).
- A base do plano é um sistema de vias e
quadras que poderia se estender indefinidamente, à medida que a cidade fosse
crescendo. Cerdá cria uma hierarquia viária onde pequenas ruas
"desaguam" em ruas maiores que por sua vez "desaguam" em
grandes avenidas. Para explicar este conceito hierárquico, Cerdá utiliza a
analogia de pequenos rios desaguando em rios cada vez maiores e mais largos
(Wikipedia pt).
- A definição da quadra é o ponto focal do
plano. Trata-se de um módulo quadrado de 113 m de lado, chanfrado nas esquinas,
com area de até 12.370 m2 em que 2/3 da superfícia era destinado a jardins e
praças e 1/3 a habitações (CALABI).
A densidade deveria ser de 250 habitantes por
hectare. Cerdá enfrentou a questão da relação matemática entre quantidade de
habitantes e serviços, propondo-a em termos de relações ideais: um centro
social e religioso a cada 25 quadras, um mercado a cada quatro, um parque a
cada oito, um hospital a cada dezesseis (CALABI).
- O plano apresenta um sistema completo que
distribui parques, indústria, comércio e residências de forma equilibrada. As
avenidas principais formam estruturas que coordenam a expansão das quadras. Os
quarteirões, hoje preenchidos em todos os seus lados, foram idealizados como
quadras abertas, que permitiam o maior fluxo de pessoas e de ar pela cidade,
assim como poderiam ser preenchidos por áreas verdes (Wikipedia.pt).
- O distrito de Barcelona construído sob o plano Cerdá situado entre a
cidade velha (Ciutat Vella) e as regiões das pequenas cidades burgos (Sants,
Gràcia, Sant Andreu etc. ) vai ser denominado Eixample, construído no século
XIX e início do século XX, sua população
vai alcançar 262.000 habitantes no último censo (2005).
- No Eixample, Cerdà considerou o tráfego e o transporte juntamente com a luz
solar e a ventilação como os elementos prioritários para criar seus blocos
octogonais característicos, onde as ruas se ampliam em todos os cruzamentos,
proporcionando maior visibilidade, melhor ventilação e (hoje) alguns lugares de
estacionamento de curta duração. O padrão de grade permaneceu como uma marca
registrada de Barcelona, mas algumas das disposições de Cerdá foram ignoradas:
os quatro lados dos quarteirões e o espaço interno foram construídos em vez dos dois
ou três lados planejados ao redor de um jardim; as ruas ficaram mais estreitas;
apenas uma das duas avenidas diagonais foi realizada; e os habitantes acabaram
sendo de uma classe superior à composição mista sonhada por Cerdà.
Referencias bibliográficas:
BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura moderna. São Paulo : Perspectiva.
CALABI, Donatella. História do urbanismo europeu. São Paulo : Perspectiva, 2012.
CHOAY, Françoise. A regra e o modelo. São Paulo : Perspectiva, 1985.
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